Tratamento da Disidrose: Qual Pomada Usar?

A disidrose é uma forma de eczema que causa pequenas bolhas cheias de líquido na pele, principalmente nas mãos e pés. Apesar de não ser grave, essa condição é bastante incômoda: as bolhas podem coçar ou arder intensamente, o que afeta o dia a dia de quem sofre dela.

Crises de disidrose costumam se repetir ao longo dos anos, tornando importante entender as causas, reconhecer os sintomas e usar o tratamento certo para aliviar os sintomas. Neste artigo explicamos de forma simples o que é a disidrose, por que ela ocorre, como se diagnostica e, especialmente, quais pomadas (cremes) são indicadas no tratamento. Também falamos sobre estudos clínicos recentes que trazem novas opções de tratamento. O objetivo é ajudar você a lidar melhor com essa condição da pele.

Causas

Quais são os Gatilhos da Disidrose?

A causa exata da disidrose ainda não é totalmente conhecida, mas sabe-se que vários fatores podem desencadear ou piorar as crises. Entre eles estão:

  • Predisposição alérgica ou atópica: pessoas com histórico de alergias ou dermatite atópica têm maior tendência a desenvolver disidrose.
  • Alergia de contato: metais como níquel e cobalto (presentes em bijuterias ou fivelas) podem desencadear eczema vesicular nas mãos.
  • Irritantes e substâncias químicas: produtos de limpeza, detergentes, sabões fortes ou solventes podem irritar a pele das mãos e contribuir para o aparecimento de bolhas.
  • Hiperidrose (suor excessivo): o suor em excesso nas mãos e pés pode favorecer a formação das lesões.
  • Estresse emocional: episódios de ansiedade ou tensão podem coincidir com o surgimento das crises.

Geralmente a disidrose aparece quando há uma combinação desses fatores em alguém suscetível. Evitar ou controlar os gatilhos conhecidos (por exemplo, usar luvas ao manusear produtos químicos) pode ajudar a prevenir crises.

Sintomas

Os sintomas da disidrose costumam ser bem característicos:

  • Vesículas: bolhas pequenas e abundantes, preenchidas por líquido transparente, localizadas principalmente nas palmas das mãos ou solas dos pés. Apresentam aspecto de “tapioca”.
  • Coceira intensa: sensação de formigamento ou picadas que podem ser muito incômodas. Em alguns casos, pode haver sensação de queimação dolorosa em vez de coceira.
  • Pele vermelha e inflamada ao redor das bolhas, dando aparência irritada.
  • Descamação e ressecamento: após alguns dias, as vesículas secam e a pele pode descamar ou formar pequenas crostas.
  • Ciclos de crise: é comum que a disidrose apareça em surtos, melhorando e depois voltando a aparecer após semanas ou meses.

Os sintomas variam em intensidade. Em alguns episódios as bolhas podem ser pequenas e quase não causar incômodo; em crises mais graves, a pele pode ficar muito sensível e o desconforto ser maior.

Diagnóstico

O diagnóstico da disidrose é feito principalmente por um dermatologista, através do exame da pele e da história clínica do paciente. Normalmente incluem-se os seguintes passos:

  • Exame físico: o médico observa as lesões características (bolhas nas mãos/pés) e avalia o padrão das lesões.
  • Histórico médico: investiga-se se há histórico de dermatite atópica, alergias ou fatores desencadeantes recentes.
  • Testes de alergia de contato (Patch Test): muitas vezes realiza-se o teste de contato para identificar alergias a metais ou outros alérgenos que possam estar associados às crises.
  • Exclusão de outras causas: exames como raspado micológico podem ser feitos para afastar infecções de fungos, e descartar outras doenças de pele semelhantes.
  • Não existem exames laboratoriais específicos para confirmar disidrose; o diagnóstico se baseia no quadro clínico e na exclusão de outras condições.

Em geral, o diagnóstico não é difícil quando as lesões são típicas, mas às vezes outros tipos de eczema ou alergias precisam ser descartados.

Tratamentos

O tratamento da disidrose tem como objetivo controlar a inflamação, aliviar a coceira e evitar infecções secundárias. Não existe uma “cura” definitiva, mas vários medicamentos tópicos (pomadas) podem melhorar muito os sintomas. Os principais tratamentos em pomada incluem:

  • Corticoides tópicos potentes: são o tratamento de primeira linha. Pomadas com corticoides de alta potência (por exemplo, betametasona dipropionato ou clobetasol) reduzem a inflamação e ajudam a secar as bolhas. Costumam ser usadas por curtos períodos (algumas semanas). É importante usar a pomada conforme orientação médica para evitar efeitos colaterais da pele (como afinamento).
  • Pomadas com inibidor de calcineurina: tacrolimus a 0,1% (ex.: Protopic) e pimecrolimus a 1% (ex.: Elidel) são cremes que reduzem a inflamação da pele sem corticóides. Eles podem ser uma opção quando os corticoides não foram suficientes ou não podem ser usados por muito tempo. Estudos clínicos mostram que eles são eficazes e bem tolerados no eczema crônico das mãos.
  • Compressas frias: não são exatamente pomada, mas aplicadas sobre as lesões podem aliviar a coceira e a inflamação enquanto o tratamento tópico faz efeito.
  • Pomadas antibióticas (quando indicado): se houver rompimento das bolhas com risco de infecção, pode-se usar pomada com antibiótico tópico (por exemplo, nebacetina ou mupirocina) para evitar infecção bacteriana secundária.
  • Emolientes e hidratantes: aplicar cremes hidratantes (preferencialmente em base de pomada oleosa) ajuda a reparar a barreira da pele e prevenir ressecamento. Geralmente recomenda-se espalhar o hidratante várias vezes ao dia nas áreas afetadas.

Em casos mais resistentes, outras opções incluem fototerapia (luz ultravioleta), corticosteroides orais em curto período, e até medicamentos imunossupressores, mas estas estratégias são avaliadas pelo médico apenas em casos graves. Recentemente, novas pomadas têm sido estudadas. Por exemplo, cremes com delgocitinibe, um inibidor de JAK, mostraram-se promissores em estudos clínicos (veja abaixo).

Prevenção

Como as crises de disidrose podem ser desencadeadas por fatores do dia a dia, adotar hábitos de cuidado pode ajudar a prevenir ou reduzir a frequência das recaídas:

  • Uso de luvas protetoras: quando for manusear produtos de limpeza, água em excesso ou substâncias químicas, use luvas (de preferência forradas com algodão embaixo de luvas de borracha) para proteger as mãos.
  • Hidratação frequente: aplique creme ou pomada hidratante nas mãos várias vezes ao dia. Produtos com ureia ou glicerina podem ajudar a manter a pele hidratada.
  • Evitar irritantes: lave as mãos com água morna e sabão neutro, sem esfregar demais; seque bem. Evite contato prolongado com objetos de metal se você souber que é alérgico. Remova joias de níquel (anéis, relógios, bijuterias) que possam ter contato direto com a pele.
  • Controle do estresse: algumas pessoas notam que episódios de estresse emocional ou ansiedade pioram a condição. Técnicas de relaxamento ou terapia podem ajudar a manter as crises sob controle.
  • Atenção à hidratação corporal: manter corpo hidratado e evitar excesso de calor (suor) também ajuda. Em climas muito quentes, procure locais frescos e vista roupas arejadas.

Esses cuidados não substituem o tratamento medicamentoso, mas podem reduzir a recorrência das crises.

Impacto no dia a dia

Disidrose: O Impacto Além da Pele

A disidrose pode interferir nas atividades rotineiras de várias maneiras:

  • Sono e Concentração: Coceira persistente pode atrapalhar o sono e diminuir a concentração durante o dia.
  • Tarefas Manuais: As bolhas doloridas dificultam tarefas simples com as mãos, como digitar, segurar objetos, cozinhar ou limpar.
  • Vida Profissional: Profissões que exigem uso constante das mãos (cabeleireiro, cozinheiro, eletricista, entre outros) podem ser afetadas, levando a afastamentos no trabalho.
  • Bem-estar Social: Aspecto visível da pele (bolhas e vermelhidão) pode causar constrangimento social ou autoestima baixa.
  • Saúde Mental: O desconforto crônico pode gerar ansiedade e frustração por não haver cura imediata.

Por isso, um diagnóstico correto e um tratamento adequado são importantes não só para aliviar os sintomas, mas também para melhorar a qualidade de vida.

Evidências Científicas

Nos últimos anos foram publicados estudos clínicos demonstrando avanços no tratamento tópico de eczema das mãos (que inclui a disidrose). Por exemplo, em um grande estudo multicêntrico de 2024, adultos com eczema crônico nas mãos receberam um creme experimental (delgocitinibe a 2%, inibidor da via JAK) ou placebo. O resultado foi que o grupo tratado com o creme teve melhora significativamente maior que o grupo placebo, com boa tolerabilidade. Em outras palavras, o medicamento reduziu muito a inflamação e as lesões em quase metade dos pacientes, comparado a apenas 1 em cada 6 no grupo sem tratamento ativo.

Outro estudo recente comparou esse mesmo creme de delgocitinibe contra uma medicação oral tradicional (alitretinoína) em casos graves de eczema das mãos. Em 24 semanas, o creme tópico se mostrou superior: os pacientes melhoraram mais rápido e apresentaram menos efeitos colaterais. Por exemplo, apenas 4% dos pacientes que usaram o creme relataram dor de cabeça, contra 32% dos que tomaram alitretinoína. Esses resultados indicam que novas pomadas (como o inibidor de JAK) podem ser opções valiosas quando os tratamentos convencionais não foram suficientes.

Além disso, alguns estudos em pequena escala exploraram tratamentos complementares. Por exemplo, pequenas séries de casos sugerem que a injeção de anticorpos monoclonais (como o dupilumabe) pode ajudar pacientes com disidrose muito grave e refratária a outros tratamentos. Em um caso relatado, pacientes com eczema vesicular recalcitrante melhoraram após começarem o dupilumabe. Embora ainda não seja terapia de primeira linha (é caro e de uso controlado), esse tipo de evidência mostra que mesmo pacientes com quadro difícil têm novas opções surgindo.

Conclusão

Não existe um único remédio que cure definitivamente a disidrose, mas é possível controlar as crises e reduzir os sintomas com o tratamento certo. As pomadas com corticóide de alta potência são a base do tratamento e devem ser aplicadas conforme orientação médica.

Pomadas de tacrolimus (calcineurina) também podem ser usadas em crises persistentes. Em casos muito graves, seu médico pode recomendar outros tratamentos (como pomadas ou medicamentos sistêmicos diferentes). Além disso, hábitos de cuidado diário ajudam muito na prevenção.

Dicas práticas:

  • Mantenha as mãos limpas e hidratadas: use sabonete suave e aplique creme emoliente várias vezes ao dia.
  • Ao ver as primeiras bolhas, aplique imediatamente a pomada prescrita (corticoide ou tacrolimus) e siga as instruções de uso.
  • Use luvas ao lavar louça, limpar a casa ou manusear substâncias químicas.
  • Evite coçar as lesões; mantenha as unhas curtas para não romper as bolhas.
  • Procure um dermatologista se as crises piorarem ou se infectarem (sinal de pus, dor intensa, calor local).
  • Controle fatores de risco: gerencie o estresse e evite contato prolongado com irritantes conhecidos.

Seguindo essas orientações e usando corretamente as pomadas indicadas, a maioria dos pacientes consegue manter a disidrose sob controle e minimizar o impacto no dia a dia.

Referências

  1. Bissonnette R, Warren RB, Pinter A, et al. Efficacy and safety of delgocitinib cream in adults with moderate to severe chronic hand eczema (DELTA 1 and DELTA 2): multicentre, randomised, double-blind, phase 3 trials. Lancet. 2024;404(10451):461-473.
  2. Giménez-Arnau AM, Pinter A, Sondermann W, et al. Efficacy and safety of topical delgocitinib cream versus oral alitretinoin in adults with severe chronic hand eczema (DELTA FORCE): a 24-week, randomised, phase 3 trial. Lancet. 2025;405(10490):1676-1688.
  3. Waldman RA, DeWane ME, Sloan B, Grant-Kels JM, Lu J. Dupilumab for the treatment of dyshidrotic eczema in 15 consecutive patients. J Am Acad Dermatol. 2020;82(5):1251-1252.

Sobre o autor:

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CRM-SP: 156490 / RQE: 65521. Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP). Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

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