A cicatrização é um processo natural e importante do nosso corpo. É uma resposta do organismo para situações em que há danos nos tecidos, tanto internos quanto externos. Ocorre principalmente com a perda de sangue, quando há regeneração do tecido pela ação das plaquetas presentes no sangue.
Porém, esse processo de regeneração não é perfeito. Em muitos casos, o tecido não retorna a sua forma anterior, e a região danificada ganha um novo aspecto. Esse novo aspecto é a cicatriz.
Em casos de danos extensos, por exemplo devido a cortes profundos, a cicatriz formada é claramente visível e apresenta um aspecto desagradável. Quando ela se situa em um local visível no dia a dia, como no rosto ou nos braços, pode ocasionar em insegurança e baixa autoestima para quem a tem.
Além disso, as cicatrizes não protegem o corpo tão bem quanto o tecido saudável. Elas são menos resistentes, e portanto mais propensas a se romperem, diminuem a sensibilidade da área, e não proporcionam o mesmo grau de integridade e estrutura do tecido, o que pode tornar a região mais propensa a infecções.
Por isso, é comum que pessoas procurem por procedimentos para sua remoção. E o uso de laser para cicatrizes é um dos mais comuns.
Uso de laser para cicatrizes
Existem cinco tipos de cicatrizes externas, isto é, que ocorrem na pele, mais conhecidas pelos seus nomes científicos:
- Normotrófica: a cicatrização deixa um aspecto próximo ao do tecido original, sendo a cicatriz pouco visível ou até invisível. É o tipo mais comum, resultante de ferimentos pequenos e alguns tipos de processos cirúrgicos;
- Atrófica: a parte externa da pele consegue se regenerar, mas não a parte interna (como camadas de gordura ou musculares), criando uma depressão na região. É comum para casos de acne;
- Hipertrófica: cicatriz elevada e claramente visível. É mais rara, pois está associada a fatores genéticos. É resultado de uma produção de colágeno mais alta que o normal;
- Queloide: é uma cicatriz hipertrófica que não cessa seu crescimento. É resultado de uma produção excessiva de colágeno. Também está associada a fatores genéticos;
Todos os esses tipos podem ser tratados pelo uso de laser.
As hipertróficas e queloides são as que tendem a causar maior incômodo, tanto no quesito estético quanto em relação à convivência com elas, visto que podem ser dolorosas durante sua formação. Além dos processos de remoção, existem também procedimentos preventivos para pessoas que apresentam tendência a formá-las.
Para a queloide isso é especialmente importante. Há pessoas que apresentam grande tendência a formá-las, com sua formação ocorrendo mesmo após pequenos ferimentos. Os procedimentos de remoção contribuem para parar o crescimento das já existente, mas ações preventivas também são necessárias para evitar remoções frequentes.
O uso de laser também apresenta resultados positivos no caso de cicatrizes atróficas. Neste caso, o laser é responsável por estimular a produção de colágeno na região, o que revitaliza a pele, tornando-a mais firme e elástica, e estimula o preenchimento do local, um processo semelhante a outros de rejuvenescimento da pele.
O tratamento a laser para cicatrizes
O tratamento com laser é um tratamento minimamente invasivo. Um dispositivo é utilizado para formar um laser fracionado e direcionado para a pele. Ao atingir a pele, ele provoca uma leve inflamação, assim como a remoção da camada mais externa dela.
Essa inflamação diminui naturalmente, e nesse período passa a estimular a produção de colágeno e elastina. Em seguida, essas substâncias agem para formar novamente o tecido que estava presente na região, isto é, a pele saudável. Alguns fármacos tópicos também podem ser utilizados para auxiliar essa regeneração.
Esse tratamento é especialmente eficaz para cicatrizes atróficas, visto que contribui também para o preenchimento da região que foi perdida.
Deve-se saber, porém, que o tratamento nem sempre é capaz de deixar a região igual ao que era antes do ferimento ou cirurgia acontecer. Isso se deve à ocorrência de danos decorrentes dos processos que originaram a cicatriz. Portanto, é possível que a região ainda apresente um certo relevo, por exemplo.
Contudo, o processo é capaz de atenuar esse relevo, a vermelhidão e a textura das cicatrizes. Isto é, embora se mantenha ainda a marca de um corte, partindo do exemplo anterior, o aspecto do local será semelhante ao da pele ao redor, tornando a cicatriz mais sutil.
O procedimento em geral não é doloroso, mas para pessoas com pele mais sensível pode causar desconforto. Se necessário, é possível aplicar um creme anestésico para evitar isso.
A duração do processo varia de acordo com o tipo e o número de cicatrizes a serem removidas. Em geral, espera-se precisar de quatro a seis sessões, espaçadas em um mês. Porém, é possível que o processo seja mais demorado também.
Por exemplo, queloides que já se encontram na pele a alguns anos são mais difíceis de serem retiradas e podem ser necessárias até doze sessões.
Antes e depois do tratamento a laser para cicatrizes
O tratamento não é recomendado para pessoas que possuam infecção, inflamação ou doenças de pele no local a ser tratado. Também é contraindicado para pessoas que apresentam fotossensibilidade no local. Caso faça uso regular de anticoagulantes ou de Aspirina (ácido acetilsalicílico), pode ser recomendado cessar o uso durante os dias anteriores a cada sessão.
O procedimento nem sempre resulta em efeitos colaterais. Porém, é possível que a região apresente vermelhidão, inchaço e ardência após as sessões. Nesses casos, recomenda-se aplicar bolsas com água morna para suavizar os sintomas até que eles cessem.
O tratamento deixa o local mais sensível. Por isso, deve-se evitar exposição exagerada ao sol e aplicar protetor solar diariamente (de no mínimo fator 30) por até uma semana.
A formação de cicatrizes
A cicatrização é um processo natural do corpo em resposta a danos em tecidos. Pode acontecer tanto dentro quanto fora do corpo.
Em danos mais profundos, que envolvem o vazamento de sangue (hemorragia), a cicatrização é estimulada e acelerada pelo uso de plaquetas, células presentes no sangue especializadas em realizar esse processo. Nesse caso, o objetivo principal das plaquetas é conter o vazamento de sangue. Posteriormente, o tecido consegue se regenerar.
Embora seja um processo natural e benéfico, em alguns casos pode também ser prejudicial. A queloide, como dito anteriormente, é uma cicatriz hipertrófica que não cessa o próprio crescimento, causando incômodo e gastando nutrientes e energia do corpo no processo.
No interior do corpo, há também a possibilidade de formação de bridas cicatriciais. Elas são decorrentes da movimentação de órgãos e tecidos internos, por exemplo durante uma cirurgia.
Como resposta a esse estímulo, é possível que o corpo acabe criando um cordão cicatricial entre tecidos e órgãos que se aproximaram. Isso causa grande desconforto e pode requerer procedimentos cirúrgicos para remoção.
As cicatrizes formadas que não recuperam a forma anterior do tecido, como as hipertróficas e queloides, são um tipo de fibrose. Isto é, consistem na formação de tecido conjuntivo fibroso (tecido que apresenta a função de unir dois tecidos) ao invés do tecido presente anteriormente. E é essa característica que ocasiona em seu aspecto diferenciado.
Esse tecido fibroso é composto por colágeno, assim como a epiderme (camada mais externa da pele). Porém, ele apresenta uma organização diferente das fibras. Ao invés de apresentar uma textura de “tecido”, ou seja, de linhas se cruzando e partindo de diferentes direções, suas fibras são alinhadas a uma mesma direção.
Embora a tendência a cicatrizes hipertróficas seja genética, há outros fatores que podem aumentar ou diminuir sua propensão, e inclusive prevenir que aconteçam.
Por exemplo, tensionar a região que está cicatrizando pode aumentar as chances da cicatriz ser hipertrófica. Isso inclui realizar exercícios físicos que envolvam esticar ou comprimir a região danificada.
Para pessoas que já apresentem tendência, realizar massagens e aplicar pressão no local entre um mês e meio e três meses após o início da cicatrização pode diminuir a propensão da cicatriz se tornar hipertrófica. O uso de criocirurgia também pode contribuir para o resultado, se necessário.
É possível também que a cicatriz melhore a aparência naturalmente após um ou dois anos.
Sobre o laser
O termo “laser” é comumente usado para se referir a feixes concentrados de luz de alta energia. É uma abreviação do termo em inglês light amplification by stimulated emission of radiation, traduzindo, “amplificação de luz por emissão estimulada de radiação”.
Embora o laser seja comumente associado a “armamentos futuristas”, existem diversos tipos de laser com diversos níveis de energia e aplicações. Lasers são utilizados na área médica e cosmética há muitos anos para diversos fins, e se mostram muito úteis e seguros.
Para o tratamento de cicatrizes, comumente se utiliza o chamado “laser fracionado”. Embora seja mais comum que o laser seja um feixe único, devido à sua maior precisão, o feixe único também envolve maior energia, o que nem sempre é vantajoso para sua aplicação.
O fracionar do laser consiste em separar esse feixe em múltiplos feixes menores. Dessa forma, sua ação é mais distribuída e menos danosa.
A elevada energia do feixe é exatamente o que proporciona a melhor regeneração da pele. O laser atua causando grandes aumentos de temperatura na superfície da cicatriz, o que leva a múltiplos danos de pequeno porte. A presença desses danos estimula o corpo a agir para consertá-los.
Como esses danos são menores, é muito mais fácil consertá-los do que a ferida original. E nesse processo, o corpo acaba recuperando parcialmente o estado prévio do local.
Existem vários tipos de laser indicados para remoção de cicatrizes.
O laser de Érbio YAG, também conhecido como Er:YAG, utiliza feixes de luz de menor comprimento de onda. Isso significa que eles apresentam menor energia, e por isso têm maior dificuldade de penetração na pele. Portanto, atuam mais na superfície.
Ele é o mais indicado para o tratamento de cicatrizes atróficas, visto que não apresentam tanta necessidade de remover excesso de tecido, mas dependem da produção de colágeno para serem melhor preenchidas.
Devido a sua ação mais superficial, ele também causa menos vermelhidão e inchaço após o tratamento.
Também há o laser de Neodímio YAG, ou Nd:YAG, que apresenta feixes com maior comprimento de onda. Sua maior energia o confere maior capacidade de penetração e maior potencial destrutivo, o que o torna propício para tratar cicatrizes hipertróficas e queloides.
O laser de CO2 é outro que apresenta maior capacidade de penetração e existe a mais tempo que ambos. Porém, é também o mais intenso, o que ocasiona efeitos colaterais mais notáveis. Mesmo apresentando maior intensidade, ele é mais usado para o tratamento de cicatrizes atróficas.
YAG é a abreviação em inglês de “granada de ítrio e alumínio”, nome do cristal utilizado para emitir os feixes de luz. Esse cristal pode ser modificado com a adição de outro elemento para modificar os feixes, processo conhecido como “dopagem”. O Er:YAG utiliza o elemento érbio, e o Nd:YAG, o neodímio.
O laser de CO2 utiliza dióxido de carbono misturado com outros gases para gerar o laser, por isso a nomenclatura popular “laser de CO2”.
Conclusão
O uso de laser para cicatrizes é um procedimento seguro e minimamente invasivo, e que também resulta em efeitos colaterais mínimos. Deve-se, porém, seguir as recomendações de pré e pós-tratamento para evitar possíveis complicações.
A tecnologia dos lasers está em constante evolução. O laser de CO2 já provou a eficácia nesse tipo de tratamento, e lasers mais recentes estão aumentando sua eficiência e reduzindo efeitos colaterais, obtendo resultados ainda melhores.
A cicatrização é um processo natural e benéfico para nosso corpo, mas também não é perfeito. O uso de lasers pode ajudar a melhorar a aparência das cicatrizes e torná-las mais sutis, mas é importante ter em mente que elas não desaparecerão por completo, visto que não envolvem somente a camada externa da pele.
Se você tem interesse em procurar este tratamento, entre em contato com o especialista com quem planeja realizá-lo para saber mais detalhes. O número de sessões, espaçamento e duração de cada uma podem variar de acordo com a pessoa, e diferentes tipos de laser podem apresentar diferentes contraindicações e diferentes recomendações de pré e pós-tratamento.
Gostou do artigo? Compartilhe com seus amigos! Se inscreva também em nossa newsletter para conhecer mais!
Sobre o autor:
CRM-SP: 156490 / RQE: 65521. Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP). Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).