Nevo de Ota é uma condição de pele rara. É mais comum em pessoas de ascendência asiática ou africana, acometendo cinco vezes mais mulheres do que homens. É caracterizada pelo surgimento de pigmentação azulada ao redor do olho, normalmente em apenas um lado da face. Não aparenta ser hereditária, visto que raramente há mais de um caso em uma mesma família.
As causas do Nevo de Ota ainda não estão bem definidas, mas evidências indicam que pode ser originado de situações de estresse para o corpo, como traumas, exposição solar excessiva e desbalanços hormonais.
Ele pode se originar durante a adolescência, a vida adulta, ou ainda no primeiro ano de vida. Porém, é raro que surja durante a infância. Em seus estágios iniciais pode ser mais discreto e difícil de ver, mas com os anos tende a aumentar de tamanho e se tornar mais escuro, e com isso, se tornar mais visível.
Em geral, é benigno, mas também pode se espalhar para o olho, onde aumenta o risco de desenvolver glaucoma. Também é possível que aumente o risco de desenvolver melanoma. Por isso, é importante realizar acompanhamento médico para prevenir o desenvolvimento dessas complicações.
Para as questões estéticas, isto é, a remoção da pigmentação excessiva da pele, o tratamento a laser para nevo de ota é o mais indicado, visto que obtém ótimos resultados com efeitos colaterais mínimos.
Uso de laser para Nevo de Ota
Lasers já são utilizados em tratamentos estéticos e médicos há vários anos, e apresentam destaque nos tratamentos de pele, sendo muito usados para o tratamento de cicatrizes, celulite e estrias.
A alta eficiência do laser consiste no uso de seu efeito destrutivo para estimular a pele a se regenerar e, com isso, melhorar seu aspecto.
No caso do Nevo de Ota, o laser é utilizado para eliminar os melanócitos envolvidos, ou seja, as células responsáveis pela pigmentação que estão desreguladas.
Nem sempre há eliminação completa da hiperpigmentação, mas há visível atenuação. Com isso, há maior facilidade de esconder a pigmentação restante com o uso de outros cosméticos.
É importante saber, porém, que o tratamento não é uma solução definitiva. É comum que a pigmentação retorne com o tempo, e tende a retornar com coloração mais escura, se tornando mais visível. Esse processo de escurecimento é natural, não sendo decorrente do tratamento.
Se desejado, é possível realizar o procedimento novamente após o retorno da pigmentação, o que resulta em um nível semelhante de atenuação.
O tratamento geralmente requer múltiplas sessões (em geral, entre 8 e 12) espaçadas em alguns meses. O número de sessões e seu espaçamento, assim como a duração de cada sessão, variam conforme o paciente e o tamanho da região a ser tratada.
O tratamento
O tratamento consiste no uso de um laser pulsado (chamado Q-Switched ou QS) para a eliminação das células de pigmentação afetadas (melanócitos).
O laser utilizado é projetado para penetrar as camadas exteriores da pele e atingir somente a região onde estão presentes os melanócitos.
Ao atingir essa região, ele causa um rápido aumento de temperatura, atingindo temperaturas muito altas, o que causa a morte das células atingidas e danifica as células ao redor.
Devido aos danos causados, o procedimento pode provocar dor, ardor e desconforto durante o processo. Caso seja requisitado, o especialista pode aplicar um anestésico tópico para tornar o processo mais confortável.
Os danos causados também estimulam a regeneração do local, contribuindo para o fortalecimento da pele. Porém, não há ocorrência de sangramento durante ou após as sessões.
Após cada sessão é possível que a região apresente vermelhidão, ardência e inchaço, mas os sintomas costumam cessar em até 48 horas.
Contraindicações e cuidados
Tratamentos a laser para Nevo de Ota não são indicados para pessoas que apresentem doenças cardíacas, nem para pessoas grávidas ou que estão amamentando. Também não se deve utilizar anticoagulantes ou Aspirina (ácido acetilsalicílico) durante os três dias anteriores a cada sessão.
O procedimento também é desaconselhado para pessoas que apresentem inflamação, infecção, doenças de pele (como dermatites) ou fotossensibilidade no local a ser tratado.
Após cada sessão, deve-se evitar por uma semana exposição excessiva à luz solar, por exemplo na forma de banhos de sol, visto que o tratamento sensibiliza a pele. Se necessário sair ao sol, utilizar protetor solar com fator de no mínimo 30.
O que é Nevo de Ota?
O termo “nevo” é um termo técnico utilizado para se referir a manchas, pintas, sinais e marcas de nascença, isto é, aglomerados de pigmentação que diferem da pele ao redor.
Nevo de Ota é uma condição rara que envolve a formação de um nevo de grandes proporções logo abaixo da pele, e que acomete sempre a região em torno do olho. Pode atingir as pálpebras, a testa e as maçãs do rosto, assim como a esclera do olho (isto é, a parte branca do exterior do mesmo).
Nesse caso, a hiperpigmentação ocorre na derme, camada imediatamente inferior à epiderme, que é a camada mais externa da pele. Os nevos usualmente ocorrem na epiderme, o que os deixa mais visíveis e com aspecto mais homogêneo.
Os nevos que ocorrem na derme, por estarem cobertos pela epiderme e cercados pela derme, geralmente apresentam aspecto mais fosco e se assemelham a um conjunto de pontos próximos, como é o caso do Nevo de Ota.
Em geral, atingem somente um dos lados do rosto, mas em 10% dos casos atinge ambos. Essa assimetria, assim como o fato dos pigmentos tenderem a apresentar um tom azulado, são fatores que o diferenciam de outras condições de pele, como o melasma, que é acastanhado e atinge ambos os lados.
Porém, como a pigmentação tende a escurecer e a condição é rara, o diagnóstico pode ser difícil. Além disso, também há casos onde o nevo apresenta uma coloração acastanhada, semelhante ao melasma. Uma biópsia pode ser necessária para o diagnóstico diferencial.
Histórico e condições relacionadas
O Nevo de Ota foi descrito pela primeira vez pelo dermatólogo e escritor japonês Masao Ota, em 1938, a condição foi nomeada em sua homenagem em 1939. Estima-se que entre 0,2 e 0,8% dos atendimentos dermatológicos no Japão decorrem do Nevo de Ota.
A condição também se assemelha a outras condições de pele também descritas posteriormente por dermatólogos japoneses, como:
- Nevo de Ito: hiperpigmentação azulada que ocorre na região do pescoço, ombros, e costas, descrita primeiramente por Minor Ito em 1954;
- Nevo de Hori: nevo que também acomete o rosto, caracterizado pela ocorrência de “pintas” espalhadas na região das maçãs do rosto. As pintas podem ser azuladas ou acastanhadas e geralmente estão presentes em ambos os lados da face. Foi descrita primeiramente por um grupo de pesquisadores liderados por Yoshiaki Hori, na década de 80.
A literatura científica descreve vários outros tipos de nevos, que apresentam diferentes aparências e comportamentos e podem gerar diferentes efeitos colaterais. Portanto, podem também apresentar outras formas de tratamento, embora o laser seja uma boa opção para vários deles.
Laser para Nevo de Ota: Qual tipo é recomendado?
O tratamento do Nevo de Ota utiliza um tipo de laser chamado quality switched (em tradução literal “qualidade alternada”). O laser se baseia na modificação do “fator de qualidade” do laser.
Fator de qualidade é um termo utilizado na engenharia e na físicapara se referir ao fator de amortecimento de um sistema. Quanto maior a qualidade, menor o amortecimento, resultando em frequências de vibração maiores.
O laser Q-Switched
Basicamente, o laser funciona ao “carregar energia” por um tempo, utilizando um dispositivo que diminui o fator de qualidade, e em seguida “soltar” esse laser carregado, com um aumento desse fator.
Isso resulta em lasers de maior energia, sem necessitar utilizar muito mais energia para isso. Dessa forma, o laser se torna mais barato e mais fácil de ser criado.
Como é preciso alternar entre “carregar” e “soltar”, esse tipo de laser se diferencia dos lasers usuais, pois é pulsante ao invés de ser contínuo.
No caso do tratamento de nevos, isso não é problema. Inclusive, contribui para distribuir melhor a energia nos pigmentos e causar menos efeitos colaterais. Esses pulsos são emitidos múltiplas vezes por segundo, durante um intervalo bem pequeno de tempo, mas não dão nenhuma sensação de impacto.
Os lasers Q-Switched são os mais usados para o tratamento de lesões pigmentadas, isto é, manchas presentes na pele que são indesejadas, embora geralmente sejam inofensivas. Os lasers são utilizados tanto para lesões superficiais, como pintas e marcas de nascença, quanto para lesões mais profundas, como o Nevo de Ota. Esse tipo de laser também é utilizado para a remoção de tatuagens.
Eles agem destruindo as partículas alvo, sejam elas os melanócitos hiperativos ou as partículas de tinta da tatuagem. Sendo atingidas pelos lasers, elas se fragmentam em pequenas partículas, que são então absorvidas pelo corpo. Os danos causados na região também estimulam o corpo a regenerar o local afetado, o que o faz se tornar mais parecido com a pele ao redor.
Tipos de laser Q-Switched
Há três tipos principais de laser Q-Switched utilizados para esse tipo de tratamento: o de Nd:YAG, o de rubi e o de alexandrita. Eles diferem quanto ao cristal utilizado para a formação do laser, a profundidade de ação e os pigmentos que conseguem remover.
O laser de Nd:YAG é o mais versátil. Utiliza um cristal de ítrio e alumínio com a adição de partículas de neodímio. Em geral, apresenta maior capacidade de penetração na pele, o que o permite remover lesões pigmentadas profundas e também uma diversa gama de cores de tatuagem.
O Nd:YAG também é utilizado para o tratamento de cicatrizes, na forma de um laser fracionado, além de outras aplicações médicas, como o tratamento do glaucoma.
O laser de alexandrita utiliza um cristal de alexandrita. Tem atuação mais superficial, sendo, portanto, indicado para o tratamento de lesões pigmentadas superficiais, como melasma e marcas de nascença. Porém, também se mostra bastante eficiente para a remoção de pigmentos pretos de tatuagens, assim como para a remoção de pigmentos mais raros, como o verde-lima e o azul-celeste.
O laser de rubi utiliza um cristal de rubi. Em geral, é menos versátil, sendo mais utilizado para a remoção de pigmentos raros de tatuagens.
Outros tipos de laser também estão disponíveis no mercado e novos lasers são desenvolvidos e testados a cada ano, portanto o laser utilizado no consultório dermatológico em que realizar o tratamento pode ser de um tipo diferente.
Conclusão
O uso de laser para o tratamento de lesões pigmentadas é um processo seguro, minimamente invasivo e que resulta em efeitos colaterais mínimos. Apresenta bastante eficiência no tratamento dessas lesões, embora nem sempre tenha capacidade de removê-las totalmente. Deve-se, porém, se atentar às recomendações de pré- e pós-tratamento para evitar a ocorrência de possíveis complicações.
O Nevo de Ota é uma lesão pigmentada rara e, em geral, benigna, mas que apresenta o risco de ocasionar em complicações caso não seja acompanhada por especialistas, especialmente no globo ocular.
É uma lesão dérmica, isto é, que atinge a derme, camada presente logo abaixo da camada superior da pele, causando seu aspecto mais fosco e menos contínuo em relação aos nevos mais comuns. Porém, tende a progredir e se escurecer, o que a torna mais visível com o passar dos anos.
Os lasers Q-Switched se mostram a melhor forma de tratamento para esses casos, visto que apresentam a capacidade de atingir a derme sem ocasionar grandes danos nos tecidos ao entorno, especialmente abaixo da pele.
O uso desses lasers também torna o processo muito menos invasivo, eliminando a necessidade de cirurgia ou de remoção de partes da pele para o tratamento de lesões pigmentadas.
Caso tenha interesse em realizar esse tratamento, entre em contato com uma clínica dermatológica para saber mais detalhes. As informações dadas neste artigo são mais gerais, e pode haver certa variação de contraindicações, efeitos colaterais e recomendações de pré- e pós-tratamento conforme o tipo de laser a ser utilizado, entre outros possíveis fatores.
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Sobre o autor:
CRM-SP: 156490 / RQE: 65521. Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP). Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).