O MMP é um tipo de tratamento cuja demanda se mostra crescente nos últimos anos. Isso se deve principalmente à facilidade de realização do mesmo, pois é um procedimento minimamente invasivo, assim como pelos ótimos resultados obtidos através ele.
Porém, como o tratamento é mais conhecido pela sua sigla, nem todo mundo entende o seu funcionamento e suas características. Neste artigo apresentaremos brevemente um panorama do MMP e suas principais aplicações.
O que significa MMP?
MMP significa “Microinfusão de Medicamentos na Pele”, o que descreve de forma sucinta o funcionamento do método.
A palavra “microinfusão” é utilizada para se referir a infusões (isto é, injeções) que apresentam baixa profundidade. No caso do MMP, o objetivo é atingir determinadas camadas da pele.
A pele apresenta três camadas principais:
A epiderme é a camada mais externa. É uma camada protetora, responsável por impedir a entrada de agentes infecciosos e por ser a primeira barreira contra danos ao corpo, inclusive pela radiação ultravioleta.
Sua resistência é provida pela queratina, proteína resistente que a torna impermeável, sendo encontrada também em chifres, unhas, garras e pelos. Essa impermeabilidade contribui tanto para impedir a entrada de água quanto para impedir que a água do corpo saia.
A derme é a camada intermediária, presente logo abaixo à epiderme, composta predominantemente por colágeno e elastina. É uma camada de tecido conjuntivo, isto é, responsável por conectar tecidos próximos. No caso, conecta a epiderme à hipoderme, localizada logo abaixo.
Além de prover a união dos tecidos, a derme também é o tecido que permite que a circulação sanguínea chegue à epiderme, é responsável pela formação e manutenção dos pelos, e também por prover firmeza, sustentação e elasticidade à pele.
A hipoderme é uma camada de transição. É também composta por tecido conjuntivo, mas seu objetivo é conectar a derme aos músculos e aos ossos, além de facilitar a circulação sanguínea para as camadas superiores da pele.
É uma região de tecido adiposo, isto é, que apresenta gordura. Por isso, suas funções principais são: conter impactos, armazenar energia e prover isolamento térmico, contribuindo para o bom funcionamento e a saúde das estruturas internas do corpo.
O objetivo da microinfusão é, portanto, atingir a derme ou a hipoderme, para, com isso, injetar medicamentos diretamente no local em que são necessários.
O dispositivo de microinfusão
Microinfusão consiste no uso de microagulhas para a infusão dos medicamentos. As microagulhas são agulhas curtas e finas, projetadas para entrar na pele sem danificá-la. Isto é, seu uso, em geral, não provoca sangramentos. A agulha se insere sem romper o tecido, se aproveitando de suas irregularidades, e, ao ser removida, a pele rapidamente volta a preencher o local perfurado.
O uso das microagulhas, porém, não é realizado manualmente. O médico responsável pelo procedimento utiliza um dispositivo semelhante a uma máquina de tatuagem. Se trata de uma coleção de microagulhas que se estendem e se retraem rapidamente, seguindo um padrão predeterminado. Dessa forma, há melhor distribuição do medicamento pela pele durante o procedimento.
MMP é o mesmo que microagulhamento?
Embora o uso de microagulhas os faça parecer semelhantes, e eles inclusive apresentem aplicações semelhantes, o MMP e o microagulhamento apresentam grandes diferenças.
No MMP, as microagulhas são utilizadas para a infusão de medicamentos. Elas se inserem e se retraem rapidamente, se mantendo apenas o tempo suficiente para a deposição do mesmo. Esse processo não causa danos significativos à pele, facilitando a recuperação do paciente.
No caso do microagulhamento, utiliza-se um dispositivo diferente, um “rolo” pequeno que contém microagulhas. Seu objetivo não é a infusão de medicamentos, mas causar pequenos danos na pele. Os danos não são suficientes para ocasionar sangramento, mas são suficientes para induzir a regeneração da pele. Isso permite que ela se rejuvenesça e torne mais brandos alguns tipos de imperfeições.
Aplicações
O MMP é utilizado para diversas aplicações que envolvam a derme ou a hipoderme.
Muitas dessas aplicações tradicionalmente utilizavam medicamentos tópicos ou sistêmicos. Porém, esses métodos apresentam sérios problemas que prejudicam sua efetividade.
Os medicamentos tópicos dependem da permeação do medicamento através da epiderme. A epiderme, porém, tem como uma de suas funções o bloqueio da entrada de substâncias externas. Por isso, medicamentos tópicos apresentam grande dificuldade de atravessar a pele em grandes quantidades. E o uso de maiores concentrações dos mesmos pode irritar a epiderme.
Medicamentos sistêmicos, por outro lado, podem atingir a derme e a hipoderme, visto que são transportados pela corrente sanguínea. Porém, eles se difundem pelo corpo todo, portanto, chegam ao local desejado em baixas concentrações. Além disso, podem também causar efeitos colaterais, pois, podem afetar outras regiões do corpo também.
O MMP e outros métodos semelhantes possibilitam a realização de um tratamento localizado, de forma semelhante ao tópico. Porém, as agulhas apresentam maior capacidade de penetrar a epiderme, e, com isso, é possível difundir o medicamento diretamente na pele.
O MMP é utilizado principalmente para:
- Melasma: melasma é um tipo de lesão pigmentada, isto é, consiste no aparecimento de pigmentação diferenciada em uma região da pele. A melanina, que causa a pigmentação característica da condição, se aloja tanto na epiderme quanto na derme. A inserção de medicamentos na derme contribui para a eliminação dos pigmentos.
- Cicatrizes: cicatrizes são o resultado da regeneração incorreta da pele após seu rompimento. Podem ser o resultado da regeneração incompleta, isto é, sem a regeneração do tecido conjuntivo abaixo da epiderme (cicatriz atrófica) ou da regeneração incorreta, com excesso de colágeno (cicatriz hipertrófica e queloide). Os medicamentos inseridos contribuem para preencher o tecido, no primeiro caso, e remover o excesso de tecido conjuntivo, no segundo, para que a pele retorne ao seu estado natural.
- Estrias: estrias surgem do rompimento do tecido conjuntivo devido ao rápido estiramento da pele. O MMP injeta medicamentos preenchedores que também estimulam a pele a regenerar esse tecido.
- Rejuvenescimento da pele: o MMP também pode estimular a produção natural de colágeno e injetar medicamentos preenchedores, combatendo rugas, linhas de expressão e flacidez, além de tornar a pele mais fina e elástica e, portanto, com um aspecto mais jovem.
- Tratamento da calvície: um dos principais usos do MMP atualmente é no tratamento da calvície. Através desse procedimento, é mais fácil injetar medicamentos diretamente na derme e, com isso, estimular a produção de cabelo.
O MMP capilar
O MMP se destaca principalmente no tratamento da calvície. A calvície (também conhecida como alopecia) consiste na queda natural de cabelo sem que haja retorno do crescimento do mesmo. É uma condição benigna e hereditária, mais presente em homens, mas que também pode ocorrer em mulheres.
Embora a calvície seja associada com a meia-idade e a velhice, também pode ocorrer em pessoas mais jovens, devido tanto a fatores hereditários quanto ambientais, como estresse, uso de substâncias nocivas ao couro cabeludo, doenças, entre outros fatores.
Embora seja benigna, a calvície tende a gerar incômodos psíquicos devido à forma como é encarada. Pode causar baixa autoestima, isolamento e dificuldade de relacionamento interpessoal, afetando a vida social e profissional da pessoa.
Por isso, é comum a procura por tratamentos para a calvície, especialmente por pessoas jovens.
O MMP proporcionou uma forma mais efetiva de realizar o tratamento da calvície, permitindo que os medicamentos necessários sejam inseridos diretamente na derme, região da pele responsável pela criação e crescimento dos pelos e do cabelo. Dessa forma, é mais eficiente que tratamentos tópicos e sistêmicos utilizados tradicionalmente.
Porém, o tratamento da condição varia de uma pessoa para outra, e os medicamentos tradicionais são mais testados e apresentam bom nível de efetividade em muitos casos. Por isso, é comum que o MMP seja utilizado em conjunto com outros tipos de tratamento.
Essa abordagem mais ampla aumenta as chances de bons resultados serem obtidos e se adapta melhor às especificidades de cada pessoa.
Contraindicações do MMP
O MMP é contraindicado para gestantes e lactantes, pessoas que apresentem alguma coagulopatia (isto é, dificuldade de coagulação sanguínea) ou que fazem uso contínuo de anticoagulantes ou Aspirina (ácido acetilsalicílico). Também é contraindicada para pessoas que tenham alergia a algum dos componentes da fórmula utilizada.
O tratamento
Os detalhes do tratamento variam conforme o paciente. Considerando o objetivo do paciente, sua condição atual e possíveis sensibilidades às substâncias a serem utilizadas, o dermatologista responsável prepara a fórmula medicamentosa a ser utilizada, podendo utilizar vários medicamentos juntos.
Preparada essa fórmula, ela é aplicada diretamente no conjunto de agulhas do dispositivo, e o procedimento é então iniciado.
O procedimento consiste em passar o dispositivo pelo local a ser tratado enquanto o mesmo está ativado e com medicamento aplicado. As microagulhas penetram repetidamente na pele adicionando pequenas doses do medicamento a cada vez. Elas se inserem e retraem múltiplas vezes por segundo, sendo essa velocidade ajustada pelo aplicador.
O procedimento, em geral, não causa grandes incômodos, não sendo obrigatório o uso de anestesia. Porém, caso requisitado pelo paciente, por exemplo, devido à sensibilidade no local, pode ser aplicado um anestésico tópico antes do início do procedimento. O efeito do anestésico pode durar até 24 horas.
O tempo de cada sessão varia de acordo com o procedimento, assim como o tamanho do local de aplicação, podendo durar até uma hora. O número de sessões também varia, assim como o espaçamento entre cada sessão. Porém, é comum que o espaçamento seja de um mês.
Antes e depois do tratamento
O MMP geralmente não requer preparo significativo anterior a cada sessão. Porém, caso faça uso contínuo de anticoagulante ou Aspirina, pode ser necessário cessar o uso pelo menos a partir de três dias antes de cada sessão. Deve-se consultar com o médico que realiza o acompanhamento do medicamento para saber se isso seria possível.
Além disso, é importante também estar em cada sessão com a pele limpa e sem a presença de cremes, protetor solar, maquiagem, ou outros tipos de substâncias cobrindo a pele, para evitar a ocorrência de complicações.
Após cada sessão, é possível que surja vermelhidão, ardência e inchaço no local de aplicação. Esses são efeitos colaterais comuns do tratamento, apresentam baixa intensidade, e geralmente cessam em até 48 horas. É possível que ocorra leve descascamento no local também, como parte do processo de regeneração da pele.
Como os efeitos colaterais são leves, não há tempo recomendado de recuperação. É possível retornar às atividades diárias no mesmo dia ou no dia seguinte. Porém, há alguns cuidados que devem ser tomados para evitar complicações.
Como o procedimento sensibiliza o local e induz sua regeneração, é importante evitar exposição excessiva à luz solar durante uma semana após cada sessão. Caso precise sair ao sol, utilize protetor solar com fator de no mínimo 30.
É importante também evitar encostar e esfregar a região tratada, especialmente nos primeiros dias após a sessão, para que se regenere corretamente. Podem ser receitados medicamentos para auxiliar essa regeneração, que devem ser utilizados conforme as instruções do dermatologista.
O tempo necessário para a percepção dos resultados pode variar. Para tratamentos que envolvem preenchimento, como de estrias, cicatrizes atróficas e rejuvenescimento, o preenchimento é notado imediatamente após cada sessão.
Para tratamentos que envolvem a regeneração por processos naturais, como regeneração do tecido conjuntivo da pele (para o rejuvenescimento e cicatrizes) e crescimento de cabelo, os resultados finais podem demorar até seis meses para serem atingidos.
Conclusão
O MMP é um tratamento seguro, minimamente invasivo e, portanto, que produz efeitos colaterais de baixa intensidade e apresenta necessidade de tempo de recuperação. Isso, em combinação com seus ótimos resultados, o torna uma ótima opção para diversos tipos de aplicações, como calvície, remoção de cicatrizes, correção de estrias, rejuvenescimento da pele, entre outros.
Sendo minimamente invasivo, o tratamento também se destaca por apresentar mínimo desconforto, não requerer anestesia geral, e apresentar baixo tempo de cicatrização, permitindo que os primeiros resultados sejam notados rapidamente.
O tratamento também apresenta poucas contraindicações, o que otorna acessível a um grande número de pessoas. Essa característica também permite que seja aplicado em conjunto com outros tipos de tratamento, algo especialmente vantajoso para o tratamento da calvície.
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Sobre o autor:
CRM-SP: 156490 / RQE: 65521. Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP). Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).